domingo, 19 de setembro de 2010

Gauchesca



Canto agora nestes versos
com meu grito entusiasmado
a lida e o povo gaúcho
neste rincão abençoado

Quero falar do chimarrão
do churrasco e do gaiteiro
da linda prenda cheirosa
e do ginete faceiro

Das tropas cruzando as coxilhas
na toada mansa do tropeiro
nos tombos nas domas renhidas
e do galpão hospitaleiro

Canto o minuano cortante
o poncho amigo e o laço
a disparada da ema
e a boleadeira cortando o espaço

Exalto a história dessa gente
valente, simples e altiva
que tem a liberdade como semente
brotando da terra nativa

Sendo farrapo, chimango, maragato
ou peleador no Paraguai
são os rebentos deste Rio Grande
os filhos honrando o pai

Canto um tempo iluminado
pelas faíscas das adagas
pela prata dos arreios
e pelos olhares das amadas

Um tempo de muitas distâncias
vencidas num lombo tobiano
das frescas sangas de pedras
e das noites no chão pampeano

Vendo a tapera silenciosa
sinto um aperto no peito
lembrando o fio do bigode
e outras tradições de respeito

E me vem uma nostalgia infinita
dessa vida gaudéria e passada
uma amarga solidão sem consolo
como a perda da mulher amada

Mas sigo alimentando o braseiro
e ao patrão do céu peço, sincero,
que proteja este mundo campeiro
e o grito do quero-quero


Antonio Augusto Coronel Cruz

Ave Maria do Peão

Ao reponte do sol que descamba
no dia se aprochega para o arremate
pelos campos e nos matos da querência
no revoar da bicharada voltando ao ninho
é hora de recolhimento

No rancho que há no interior
de mim mesmo
eu, gaúcho de fé
me arrincono e medito

Despindo o poncho da vaidade
e do orgulho
tiro o chapéu, apago o pito
e me achego pra uma prosa
com o patrão maior

Na sua presença
meu sangue quente de farrapo
se faz manso caudal
entrego-lhe minha alma
afoita de alcançar lonjuras
e abrir cancha
em busca do destino
renuncio à minha xucra rebeldia
me faço doce de volta
e macio de tranco
para dizer-lhe

Gracias patrão
por tudo que me deste
por esta querência Senhor
que meus ancestrais regaram
com seu sangue
e que aprendi a amar desde piá

Pelos meus parceiros
nessa ronda da vida
sempre de prontidão para
me amadrinharem na
campereada mais custosa
ou para matearem comigo
na hora do sossego

Reparte com eles, patrão
esta fé que me deste
e este orgulho pela minha
querência

Ajuda patrão
a manter acessa esta chama
concede sempre ao gaúcho
a força no braço
e o tino pra saber o que
é correto

Dá-nos consciência
para preservar a nossa cultura
livre da invasão dos modismos
conserva a essência e a beleza
da nossa tradição

E agora, com licença patrão
que vou aproveitar a olada
para um dedo de prosa com
Nossa Senhora

Ave Maria
primeira prenda do céu
contigho está o Senhor,
na estância maior
tu és bendita entre todas
as prendas
e bendito é o piá que
trouxeste ao mundo, Jesus

Maria, mãe de Deus
E mãe de todos nós
roga pela querência
e pelos gaudérios
que aqui moram
nesta hora e no instante
da última cavalgada

Amém


Odilon Ramos

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

*MEU IRMÃO ESTRANGEIRO*

Meu irmão estrangeiro, dê-me lá um abraço!
O sol que aquece a sua terra
ilumina a minha pátria.

Deus encheu os campos de alimento,
na sua terra e na minha.
As flores, no seu país e no meu,
enfeitam as nossas alegrias
e consolam as nossas tristezas.

Os pássaros das suas florestas
e os que matizam as minhas selvas
são os mesmos mensageiros da manhã,
da luz e da vida...

As crianças de seu país
e as crianças do meu Brasil
trazem beleza e inocência
aos nossos corações machucados.

No seu país e no meu
os homens adoram e blasfemam.
No seu país e no meu,
os homens sofrem e amam
e desejam ser felizes.

Reparou que temos muito em comum?
Que temos as mesmas causas de alegria?
Os mesmos motivos de tristeza?
A mesma fonte de felicidade?

Você adora a sua terra
e eu sou louco pela minha
_ Vê? _ Somos iguais!
Dê-me lá um abraço, meu irmão estrangeiro!

Abraçando você,
eu me abraço com a sua terra,
eu me abraço com o mundo!
Eu me sinto mais brasileiro!
Eu me sinto um brasileiro
cidadão do Universo!

"Vida, Amor e Juventude, de Euclides
Carneiro da Silva, p.28 e 29"